Conselho

Criar uma vida que reflita seus valores e satisfaça sua alma é uma rara conquista. Em uma cultura que incansavelmente promove avareza e excessos como a boa vida, alguém feliz fazendo seu trabalho excêntrico, se não subversivo. Ambição só é compreendida se tem o objetivo de subir ao topo de alguma ladeira imaginária do sucesso. Alguém que pega um trabalho pouco exigente porque proporciona o tempo para perseguir outros interesses e atividades é considerado pouco confiável. Uma pessoa que abandona a carreira para ficar em casa e cuidar de seus filhos  é considerada alguém que não está vivendo todo seu potencial. Como se um título e salário fossem as únicas medidas do valor humano. Vão dizer de cem jeitos, alguns sutis e muitos não, para continuar escalando, e nunca ficar satisfeito com onde você está, quem é e o que está fazendo. Há um milhão de jeitos de se vender, e eu garanto que você vai ouvir sobre eles. Inventar seu próprio sentido para a vida não é fácil, mas ainda é permitido, e eu acho que você vai ser mais feliz com esse problema. (Bill Watterson)

"Talvez você esteja sentado, em uma mesa de escritório, olhando para a tela do seu computador e pensando em todas as coisas que está deixando de fazer, nos sacrifícios que tem de manter para se divertir um pouco em busca de alívio pela rotina que leva."

?

If you have to ask, you'll never know. (Armstrong, L.)

O sol desceu tão bonito no horizonte;
mudou de cor;
mudou, também, a cor do céu;
ficou maior, alaranjou e foi embora;
deixando o breu, também bonito.

Extasiado, tomei uma triste decisão.
Ao invés de deleitar-me, apenas,
em tamanha beleza,
quis saber os porquês do sol,
quis saber os porquês do laranja,
quis saber os porquês do breu,
quis saber os porquês...
Quis saber...

Achei todas as respostas.
Mas agora,
todo pôr do sol parece-me mais com qualquer uma dessas bugigangas que a gente compra no camelô.

Hesitação


Atravessei as vielas de massa cinzenta;
Perdi-me, então, em saudades
de um desconhecido lugar.

A visão desfocada; o café esfriou.

Num poço, sorria um rapaz sem medo;
E o desejo de vê-lo me fez gritar:
- Suba!
Desafiou-me:
- Não. Tu é quem deves descer!

Existir independe de existir

Uma das características que nos vem a mente quando ouvimos a palavra "artista" é: Criatividade. Mas existe de fato o ato de criar? Ou seria isso só mais um delírio humano? O fato de você sentar no seu quarto com um violão no colo e  papel e caneta na escrivaninha, e compor uma música faz de você um "criador"? Não quero discutir o mérito do artista, nem de sua obra. Proponho a reflexão sobre a existência ou não da criatividade.

A composição do músico, exemplificada acima, está cheia pequenas peças, de ideologias, de transmutações, de influências e de padrões que foram utilizados por ele, mas não criados por ele. É um Frankstein. O que o transforma, então, em um agente transformador, não em um agente criador. E transformar, então, não seria o mesmo que criar? Não. Se você analisar o mundo a sua volta, irá perceber que, de fato, nada se cria, tudo se transforma. Se amanhã alguém "criar" o teletransporte, na verdade esta pessoa não está criando tal mecanismo, ela estará apenas descobrindo uma possibilidade que já existia, e sempre esteve lá, mas precisava de uma forma de vida inteligente, no plano físico, para torná-la palpável. Tudo sempre existiu, e sempre irá existir. Cabe a nós sermos humildes diante disso e aceitarmos que nós não podemos criar absolutamente nada; podemos apenas tornar concretas possibilidades que o universo físico já possuía de antemão.

E onde está, então, a beleza disso? Em todo lugar! Basta deixarmos o egocentrismo de lado - vivemos em tempos heliocêntricos - para vermos que nós não somos importantes. O artista não é importante. A música não depende do músico estar lá ou não para existir. A arte não precisa do artista. A vida não precisa de você. E onde está, então, a beleza disso? Nisso!