Viadagem e Mastodontes

As vezes os pelos do meu braço arrepiam;
e depois a barba.
A nuca é mais difícil; mas acontece.

Isso tudo
no contato com alguma sutileza.
Num poema, numa música, num filme.
Às vezes num silêncio, num espaço.
Numa simples quebra
de linha.


Mas é raro.

Um homem não deveria sentir isso,
dizem os mastodontes; às vezes um ou outro
motoqueiro.

Eu mesmo o diria se fosse sexta à noite,
se fosse um bar,
e eu estivesse de jaqueta de couro
e botas.

Mas é quarta à tarde.

E eu sei que sua casca grossa
parte-se em mais de mil pedaços,
ao fim de toda madrugada
interminável.

Mas fica entre nós.

Meus boletos estão todos pagos


Quantas vezes já derramei vodka na jaqueta?
Quantas vezes!
Derramei por estar bêbado; Não pelo copo estar muito cheio.

Sem desculpas esfarrapadas.

Deixemo-as para amanhã cedo.

Derramei na jaqueta, no inverno.
Na camisa, no verão.
Nos sapatos derramei o ano todo.
Nunca nos outros, porque sou culto.
Só às vezes, porque sou cretino.
Porque sou os dois.

Quantas vezes olhei para uma mulher,
que todos sabiam o nome, menos eu, e pensei:
Você nem é tudo isso!
Ou ainda:
Grandes bosta!

Outros se derretiam em desejo.

Nestes momentos, quantas vezes olhei para o lado
à procura do garçom.
Ele eu conhecia pelo nome; e ele sorria.

Quantas vezes tudo ficou mais fácil
depois de não dever nada a uma mulher?
E então, depois disso,
de não dever nada à nenhuma das outras mulheres do mundo.